O administrador do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa revelou que este foi “poupado” do corte de crédito da Roche, mas julga que este desafio deve conduzir a uma análise sobre o relacionamento dos hospitais com as farmacêuticas, avança a agência Lusa.
“Há uns anos atrás isso seria impensável de acontecer, não por uma questão de relação entre a indústria farmacêutica e os hospitais, mas porque, sendo Portugal um país europeu, nenhuma multinacional farmacêutica se atreveria” a desafiá-lo, disse Francisco Ramos.
Em entrevista à Lusa, o presidente do conselho de administração do IPO de Lisboa avançou que, com este tipo de ameaças, as multinacionais demonstram que “desafiar países europeus já não compromete a sua actividade. Provavelmente o foco da sua atenção está a mudar em termos geográficos”.
Em Fevereiro do ano passado, a Roche anunciou a suspensão do pagamento a crédito a 23 hospitais públicos com dívidas há mais de 500 dias.
A medida foi fortemente criticada, nomeadamente pelo ministro da Saúde que a apelidou de chantagem.
“É significativo e deve-nos levar a pensar sobre o desenvolvimento do nosso país e aquilo que somos capazes de fazer”, disse Francisco Ramos, revelando que, apesar de a Roche ser o principal fornecedor deste instituto, o mesmo foi poupado do corte no fornecimento de medicamentos a crédito.
Para Francisco Ramos, isso ter-se-á devido ao “prestígio dos IPO”, mas também a uma “atitude proactiva” destes institutos.
“Desafiámos as maiores companhias farmacêuticas para atitudes de maior cooperação para com os hospitais públicos, em vez de ficarmos à espera de reacções desse tipo”, frisou.
Esta atitude da Roche é “um sinal que nos deve fazer pensar no relacionamento com a indústria farmacêutica e provavelmente sermos mais exigentes”, disse.
“É um dos pontos de apreciação muito positiva da actual política de saúde: a firmeza com que é conduzida a política versus fornecedores do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.
Sobre o eventual impacto das restrições orçamentais nas decisões para a aquisição de medicamentos, Francisco Ramos garante que tal nunca aconteceu no IPO.
“Foi sempre possível encontrar o caminho para o equilíbrio financeiro sem pôr, em momento algum, em questão a escolha das terapêuticas mais adequadas para os doentes”.
Em relação ao racionamento, o administrador diz que é uma palavra que “incomoda”.
“Não faz sentido falar sobre racionamento, mas fará sempre sentido levar em linha de conta o custo das alternativas para tomar estas decisões”.